Ciclistas que pedalavam tranquilamente pela região rural de Cabreúva, nas imediações da estrada de acesso à Fazenda Limoeiro, ficaram surpreendidos com uma cena revoltante: um caminhão despejando esgoto diretamente no ribeirão Piraí, manancial essencial para o abastecimento de Salto e Indaiatuba, ambas pertencentes à bacia hidrográfica dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). O flagrante aconteceu por volta das 8h do último domingo, 4 de maio, na altura do quilômetro 86 da Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto (SP-300), num acesso por estrada de terra. A cena, segundo os ciclistas, sugere que esse tipo de crime ambiental deve ser rotineiro e não um ato isolado.

“Estavamos pedalando, apreciando a natureza, quando vimos o caminhão parado e o líquido escuro sendo despejado diretamente no ribeirão. O cheiro era forte e bem típico de esgoto”, relatou um dos ciclistas ao Portal Spress, que preferiu não se identificar por questões de segurança.

O caminhão, sem identificação visível de alguma empresa prestadora de serviço, mas que  provavelmente é da iniciativa privada, estava com parte da traseira posicionada junto à vegetação, bem próximo à margem do ribeirão. Essa prática, além de criminosa, coloca em risco a saúde de milhares de cidadãos de Salto e de Indaiatuba que dependem do ribeirão Piraí como um importante manancial de água potável.

Crime ambiental e saúde pública em xeque

De acordo com a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), lançar resíduos sólidos, líquidos ou gasosos em mananciais d’água, que possam causar poluição ou tornar a água imprópria para o consumo humano, configura crime com pena de reclusão de um a cinco anos, além de multa. Casos como este não são novidade. Em outras ocasiões, já foram registrados aumentos na turbidez e na presença de coliformes no ribeirão Piraí, especialmente em períodos de estiagem, quando o volume do manancial diminui e a presença de esgoto clandestino se torna mais evidente.

Relatórios do Comitê das Bacias PCJ indicam que o lançamento irregular de esgoto, tanto doméstico quanto industrial, está entre as principais ameaças à qualidade da água na região. Técnicos alertam que essa contaminação eleva significativamente os custos de tratamento e pode comprometer o abastecimento regular em cidades como Salto - que pertence à Região Metropolitana de Sorocaba - e Indaiatuba, integrante da Região Metropolitana de Campinas.

A quem interessa o silêncio?

A denúncia feita pelos ciclistas é grave e precisa ser investigada com rigor pelas autoridades ambientais de ambas as cidade e também pelo Ministério Público. O flagrante fotográfico indica não apenas uma ação criminosa, mas também a falência da fiscalização em áreas sensíveis de manancial. As prefeituras de Cabreúva, Salto e Indaiatuba, assim como a CETESB e a Polícia Ambiental, devem agir com rigor para identificar os responsáveis, especialmente se ficar comprovado que esse tipo de despejo ocorre com frequência.