O problema da falta de água na Estância Turística de Salto, tratada nesta eleição com insistentes trocas de farpas e acusações na base do jogo político, entre a atual administração e passadas, mostra a todos que a iminente de falta de água nas torneiras nos diversos bairros da cidade tem servido apenas como paliativo para medidas controversas, que não resolvem a origem da crise hídrica e muito menos apresentam qualquer resultado prático em curto prazo de tempo.
Para entender toda essa questão, vamos retroceder primeiramente a governos passados, como o de Pilzio Nunciatto Di Lelli e de Geraldo Garcia (dois mandatos), onde algumas medidas que também podem ser consideradas importantes. Mas antes, devemos levar em conta que a população da Estância Turística de Salto era 60% da atual e dessa forma, nesses governos, a preocupação era outra. No caso do governo Pilzio Di Lelli, ressalte-se a implantação de uma nova adutora do ribeirão Piraí, instalações compatíveis com a nova tubulação e uma maior capacidade de reservação. Isso foi em 1987 e para a época, era o necessário. Nas gestões de Geraldo Garcia, é necessário destacar o trabalho pioneiro em prol da nova Barragem do Piraí, que somente agora tem suas obras iniciadas e também; alguns reservatório oriundos de contrapartidas e a ligação tronco da Estação de Tratamento de Água (ETA) Bela Vista até a região do Santa Cruz/Cecap e outra até a região do Salto de São José. Um trabalho não feito à luz da excelência, mas necessário.
Só que nos últimos quatro anos, a cidade de Salto teve um ‘boom’ de crescimento populacional e - aqui - é necessário fazer outra reflexão. Hoje temos um máximo 430 litros por segundo de água bruta, retiradas do ribeirão Piraí (outorga de 410 litros por segundo, mas que só retira 350 l/seg, devido a problemas técnicos) e a do ribeirão Buru (outorga de 120 litros por segundo, mas que só retira 80l/seg, devido a limitação da captação). Ainda assim, devido às perdas nas redes de adução e de distribuição - corroída e obsoleta pelo tempo - e com tantos pontos de fornecimento sem cobrança, o volume captado é insuficiente para uma cidade de 140 mil habitantes.
E o córrego Ingá (manancial afluente do ribeirão Piraí, na Fazenda Conceição)?
O último manancial conhecido para abastecimento da Estância Turística de Salto está localizado no córrego Ingá, manancial afluente do ribeirão Piraí, na Fazenda Conceição. O volume captado que chegava na ETA Bela Vista, devido a uma tubulação de adução demasiadamente antiga - perto de 70 anos -, era cerca de 50 litros por segundo de água bruta. Poderia ser mais com uma tubulação nova? Esse detalhe motivou o então superintendente do SAAE Salto, Ernivan Balieiro a pensar numa estação de tratamento de água bruta na região sudeste da cidade, especificamente na região onde estava sendo projetado o Residencial Barnabé.
E naquela tarde de uma quinta-feira (25 de novembro de 2021), Ernivan Balieiro; o prefeito Laerte Sonsin Jr. e seu vice Edemilson Santos visitaram o local e definiram onde seria construída, no decorrer de 2022, a nova ETA (Estação de Tratamento de Água) Pedra Branca. O novo equipamento responderia pelo abastecimento de água de toda a região sudeste da cidade. De acordo com o então superintendente do SAAE Salto, a nova estação de tratamento de água bruta teria capacidade mínima inicial para tratar 100 litros de água bruta por segundo, tecnicamente suficiente para suprir uma população de 40 mil habitantes das regiões do Laguna, Santa Marta, Solar das Araras, Guarujá, Imperial, Morro da Mata e possivelmente uma parte do Santa Cruz.
Assim, equipe técnica de Ernivan começou a trabalhar no projeto executivo da ETA ‘Pedra Branca’, que seria instalada numa área de 23 mil m2 localizada na região do Altos do Piraí, com uma ocupação de aproximadamente 18 mil m2 e cuja distância do córrego Ingá, na Fazenda Conceição era de algo próximo a 1300 metros. Uma tubulação com um diâmetro de 300 mm seria o suficiente para trazer esse volume projetado ou até mais, por gravidade, sem a necessidade de casa de bombas.
“O projeto executivo deverá ficar pronto no início de dezembro e a obra será financiada com recursos estaduais, conforme tratativas mantidas junto ao vice-governador Rodrigo Garcia e apoiadas pelo deputado estadual Rogério Nogueira”, explicou na época o prefeito Laerte Sonsin Jr. “Trata-se de uma obra que faz parte do nosso Plano de Governo que receberá investimentos de aproximadamente R$ 10 milhões do governo do estado”, complementou o vice-prefeito Edemilson Santos.
O superintendente do SAAE ressaltou na época que a nova ETA iria contribuir significativamente no abastecimento aos saltenses. “Essa construção permitirá tratarmos a água da Lagoa da Conceição e também do Piraí, ficando também apta a tratar água da nova barragem do Ribeirão Piraí”, finalizou Ernivan Balieiro.
Nada disso aconteceu pois, como tudo era promessa política dos ex-governadores João Dória Júnior e Rodrigo Garcia, os recursos entre R$ 10 e R$ 16 milhões de reais que seriam enviados para tal finalidade, se perderam com a vitória do atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que cancelou o repasse. E até hoje nada ainda aconteceu a não ser a licitação em andamento. Estamos no final de 2024 e o atual prefeito continua a prometer uma obra que sequer foi licitada em sua totalidade.
Mas o que aconteceu com a água bruta do córrego Ingá (manancial afluente do ribeirão Piraí, na Fazenda Conceição)?
Em nota divulgada no começo de junho de 2023, o SAAE Salto informou que “desde o início de maio não tem sido possível captar água na Fazenda Conceição. Com a diminuição do nível do Ribeirão Pirai, optou-se por abrir a comporta da barragem da Conceição para que a água siga o curso normal e chegue ao Ribeirão Piraí, melhorando o volume de água na represa”.
Isso representa que estamos literalmente jogando água do córrego Ingá (manancial afluente do ribeirão Piraí, na Fazenda Conceição) fora, senão vejamos: Ao despejar a água remanescente da Fazenda Conceição no ribeirão Piraí, não aumentamos nenhuma vírgula ao valor da outorga de retirada de água bruta do ribeirão Piraí, ou seja, continuamos a retirar apenas um máximo de 350 litros por segundo de água bruta, o que anteriormente já era permitido.
E para onde vai a água bruta do córrego Ingá (manancial afluente do ribeirão Piraí, na Fazenda Conceição)?
Infelizmente, como é ÁGUA BRUTA EXCEDENTE À NOSSA OUTORGA, ela está indo para a captação do SAAE Indaiatuba que fica após a captação da Estação de Captação do Piraí. É lamentável que a partir de maio de 2023, estamos ofertando ‘ÁGUA BRUTA DE GRAÇA’ para nossa vizinha Indaiatuba enquanto falta água aqui na cidade. Os 50 litros por segundo de água bruta da Fazenda Conceição, segundo o ex-superintendente do SAAE Salto, garantiria água nas torneiras de pelo menos 5 mil residências na Estância Turística de Salto.
O motivo de enxergar tão pouco ou nada além do nariz fica tão banal como culpar apenas Geraldo Garcia pela falta de água na cidade. Todas as últimas administrações, inclusive a que aí está, tem alguma parcela de culpa, ou muitas se analisarmos imparcialmente a questão. Ou por ignorância técnica, ou por teimosia política ou por não ouvir quem tinha razão.
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