Antonius Johannes Geesink foi um super campeão. Um destaque do judô mundial. Para se ter idéia da sua importância, ele venceu em plena Tóquio, o campeão japonês Akio Kaminaga que, desde jovem fora preparado exclusivamente para vencê-lo. O episódio causou tremendo impacto nos japoneses, afinal eles haviam inventado o Judô e eram imbatíveis. Além dessa vitória, coube a Anton ‘Gessink’ - nome como ficou conhecido o gigante holandês - acumular um mérito incrível: foi o único praticante de judô não japonês que, até sua morte, conseguira a faixa preta de décimo Dan, graduação máxima que se podia chegar.
A vitória de Geesink sobre Kaminaga, aconteceu em 1964 na Olimpíada do Japão. Com 1,98m e 130 kg, ele silenciou 17 mil japoneses, derrotando seu maior lutador. Era a quarta luta de Kaminaga que disputava a mais importante medalha na categoria aberta. Seu favoritismo era o igualmente ao do Brasil na Copa de 1950; como aqui, onde os brasileiros venciam só de goleada, ele chegou como franco favorito na final. No confronto direto entre eles porém, as coisas desandatam. A ofensiva de Kaminaga foi intensa, mas o holandês soube se defender e no final imobilizou o adversário no solo. O Japão viveu então um drama, igual ao que vivêramos em 1950, só que com agravantes: além da modalidade esportiva ser das mais sagradas, a derrota se deu dentro do Japão. E por um estrangeiro!
Kaminaga que fora preparado justamente para derrotar o holandês, 2 anos depois se suicidou. Dizem que foi uma forma de pedir de perdão pela derrota!
Essa e outras histórias sobre o Judô, eu as ouvi na juventude do meu prezado José Pereira, professor de matemática, faixa preta dos melhores - 3º dan -, mas sobretudo um amigo com quem partilhei sólida da amizade. Aliás, foi a seu convite que, nos anos 70, comecei praticar judô. A diferença, porém é que, nos torneios que disputávamos, era eu um mero figurante. Zé Pereira não, respeitado por todos no tatame e fora dos torneios! Onde competia, roubava a cena. Aplicado, estudioso e técnico, foi um grande campeão. Ainda deve guardar um sem número de medalhas e diplomas. Algumas muito valiosas como o de ‘melhor atleta’ da competição, num regional realizado em Sorocaba. Ninguém resistia ao seu golpe fatal hane goshi, que aliás, deu o nome desse texto! Foram bons tempos hein Pereira? Bons mesmo!
Mas voltemos ao holandês. Pois quando o Pereira me falou desse Geesink, eu já ouvira falar nele, mas como ainda não praticava judô, o holandês não passava de um simples grandalhão para mim. Estudei no Seminário de Pirapora na adolescência onde, os padres eram ou belgas ou holandeses. Eles tinham dois heróis: o ciclista belga Eddy Merckx e um holandês, um tal Gessink. Lembro-me de uma revista que na capa mostrava o imbatível judoca, carregando filhos e esposa com a maior facilidade. Todos juntos. Parecia o gigante Atlas! A história dele é bonita desde a infância: venceu dezenas de torneios, campeão europeu aos 19 anos, 18 títulos continentais! Parou de lutar em 1967, após sagrar-se bicampeão europeu na categoria peso pesado. Está fazendo quase 14 anos que faleceu.
Concluo com uma recente lembrança. Ao revisitar Poços de Caldas, encontrei numa praça um monumento singelo; na verdade, na minha lembrança era mais glorioso, mas na realidade me assustou por estar perdido num cruzamento de ruas próximo ao Mercadão Municipal de lá. Refiro-me a uma homenagem para um mineiro da terra, Mauro Ramos de Oliveira, zagueiro e capitão do scratch brasileiro quando o Brasil se sagrou bicampeão mundial de futebol, em 1962, no Chile! Pois em Utrecht, na Holanda, Gessink tem uma rua com seu nome e um monumento em sua homenagem.
Uma homenagem muito justa e vale como um indiscutível hippon!
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CHICO GARCIA, formado em Administração e mestre em Gestão Estratégica de Negócios. Membro da Academia Saltense de Letras e colaborador do Jornal Taperá, em Salto.
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